Desconcertos Editora 









 



















Poesia Vai à Feira
Olha aí a poesia madura minha senhora!!!
Aproveita moço, o verso hoje está doce, mais doce que o doce de batata doce
Tem rima para a mocinha...
Métrica de moleque
Haicai fresquinho dedicado à tenra idade
Tem amores e amoras...
Tem estrofe para toda gente .
Quer poema mais bonito que um alface?
Então repara no repolho roxo
Poesia está no olho !
E até na orelha do livro
Dita ou escrita
Nisso ou naquilo
Poesia é a vida

** Poema feito exclusivamente para a VI Feira do Livro Infantil de Fortaleza ( 2015 )  da qual a escritora participou como autora e contadora de histórias  









Vestígios

Na guerra de egos, toda vida morreu ferida ...
Sem cura,
sem anestesia,
sem poesia....
 
 
UM TANTO DE JOIO E OUTRO DE TRIGO
Num amanhã póstumo,


duas cabeças contra parede ...

No mais ,
luz fria da despedida esquecida nos bolsos daquele dia ...
 
 
NO CAMINHO
Prefiro a estrada atravessada na garganta a seguir seu passo em vão .....
 
 
 
LÍQUIDA
Igual fosse a primeira vez à avistar o mar , antes de tudo e mais nada , amei para sempre ...
 
 
 
 
Dei!

 

Dei! um poema para quem tem fome

E

já lavou a sujeira de um banheiro de choro....

Morreu um pouco de espelho  

Antes de

Lavar a face da sobrevivência

Sozinho

Comeu a vida pelas beiradas, com os  dedos ...

Bebeu àgua na fonte...

Subiu uma escada molhada...

Construiu  pontes...

Desceu as ladeiras de Santa Teresa ...

Deitou - se no alto de um monte  ou de um rinosceronte imaginário

Bailou com o desconhecido ...

Assoprou uma ferida para longe ...

Aceitou " uma mão" ...

Deu todos os dedos  num carinho

" Com - versou com uma gaivota ...

Almou um dia ...

Amou sem ser amado

...

Amou acompanhado...

Para meninos (as) que sem notícias do impossível sonharam ...

Aos " sem" "vergonhas "

Às begônias ...

 

 

Dei ! um poema à força da vontade ...

Para toda criança banguela ...

E  cachorros em geral  ...

Além dos poetas....

 
Dei! um poema aos palhaços e anjos ...

Corações risonhos ...

Um andarilho

Uma mãe de vários filhos ...

Um ventre grávido de desejos ...

Aos que tem medo  e  esquecem  ...

Aos que lembram de contemplar estrelas...

À qualquer um que ame desaguar -se no mar ...

Dei ! um poema

À quem canta no chuveiro ...

E à quem dança seu silêncio

Respeita um papagaio ...

Sabe ser simples ...

Flerta com o improvável ...

Convive com o inacreditável

Sobreviveu ao desemprego ...

Ao Desamparo ao mar bravo

Já perdoou e foi perdoado...

Para o silêncio do mato...

Dei  aos montes  
Lagos...

Afetos ...

Os animais selvagens

Pessoas indomáveis ...

Aos eclipses lunares ...

Aos pares ...

Assim como aos ímpares ...

E eternamente às àrvores ...

 
 
Dei! um poema absoluto

Sem necessidade

Diante do fluxo  de vida em qualquer  veia









BE –a- BA
Palavra alguma remenda coração. A vida rasga parte da gente, de uma forma ou de outra. Nada se esvai, no entanto. Os poços sem fundo são apenas imaginários.
Costurar as feridas perdidas no mundo com rimas é armadilha fácil, que tenta escritores e tenta leitores, tanto quanto beijo de canto de boca. Comunhão absoluta esta vontade mútua de tecer colchas de retalho apenas bonitas para nosso desamparo de existir por aí ...
...
Assim passamos a vida escolhendo as melhores palavras , quando somente o silêncio de olhares cúmplices diz sobre importâncias indisfarçáveis ....
Antes achei que escrever era registro do pensar. Que besteira. Só escreve, mesmo, quem se esquece. O resto é desabafo. Também vale .
Têm também os contos fantásticos, das realidades inconscientes. Somos todos sobreviventes ou fugitivos de guerras nem tão particulares assim. Como desconfiamos, a neurose é mãe de todos.
Sem pensar , diria que parir palavra é roçar dores e alegrias, no mesmo cio que impede o julgamento. É também a coragem de matar um outro jeito de perceber . E haverá parágrafos inteiros em eterna fuga destas nossas resoluções. Além daquela falta de notícias dos versos amorfos, que não crescem nem morrerm , assim feito amores impossíveis. Espécie insuportável de eterna coceira.
Mas mesmo cientes de perigos iminentes, a paixão pela frase desconhecida nos acontece avassaladora. Como algo que finalmente fará sentido . Virá letra por letra para contar melhor nossa história à nós mesmos.
Quanta irresponsabilidade caberá no risco de encarcerar a liberdade de todas as hipóteses num único eco por escrito?
E afinal quem paga o pato da poesia de proveta, nascida à fórceps e herdeira de nossos despudorados desesperos ?
Não importa! Se em nossos umbigos agitar-se-ão, de qualquer maneira, verbos embrionários do que tem de ser . Eu confesso que encadeio preces por estas palavras sinônimas de destino.
Quem sabe no futuro esteja preparada para dizer que escrevo sobre o sagrado do nada, daquilo que não tem nem carece explicação e por isso mesmo mais se assemelha a amar . Por gosto . Por gozo . Porque sim . Porque pronto é isso e não terá fim .
Por hora ainda há muito chão para ler primeiro. E seja como for que a vida seja uma história que valha a pena em cada letra do Be a Ba ...


PÁSSARO TEMPO

Quero um tempo a sós comigo
Itinerante
Bem além do relógio , que percorra meus cantos de solidão e minhas salas de amoras ,...

na mesma elegância da falta de pressa...
Quero um tempo a sós comigo
Conciliado com toda circunstância e imune à qualquer uma das minhas loucuras
Quero um tempo a sós comigo
Intenso e fundo feito o rio
Eterno e farto igual leite de peito
Quero um tempo a sós comigo
Vagabundo e inocente ,
que me cubra feito fosse um manto santo
Quero um tempo a sós comigo
Tão vasto quanto o nada ,
Para acalmar minha vista de todo cansada ....
Quero um tempo a sós comigo ,
De coito
Ininterrupto
Com meu coração ....



ALVA
 

Deu

Face  alva à tua faca

"só-mente" poesia a atravessaria ...





PÔ !EMA

EMA! EMA! EMA !  Cada um com seus poemas ...

 
E se?
O tal do Verso fosse  o pai , o filho e o espírito santo?
poesia concreta
Ou
Invento ...
 
Passarinho ou canto
  
Poesia que põe mesa
Ou quebra  
 
 Menina banguela é rima   
E   idoso maroto  haicai ...
Sem falar do poema que é um pai ...
 
Na mata , no varal, na ponta da língua , no vão cílio, na alegria e na agonia,
vixe Maria onde cabe  tanta poesia em barriga vazia ¿   
 
Em um tudo há um encanto encardido sim  a gente sabe
                                   
 
Na massa
No cimento
 
Na magia  da mão
Na estrada   
 
 Pô! Ema !
Ema! Ema! Ema !
Haverá métrica mais    contente,  que  bolo de fubá quente acontecendo  na boca da gente¿
Bocas são irmãs
E
  poetas por todos os lados, entre os  famintos
 
E cada lua nasce e morre poetiza nata 
Soberanamente não verbal
 
 
Céu de graça alimenta barriga vazia todo dia
Permanecesse alguma promessa
 
Luz câmera ,intenção...
Nasce a noite até acima dos tristes ou dos mortos vivos para amanhecer novas esperanças
Salve vossa majestade  o  mar!!! Poema maior não há...
 
   Pô-ema!  Ema Ema Ema
 
 
Nas Nuvens transeuntes   
Nos Cinemas de rua
Nas Estátuas e nas pulgas
E até na literatura
  Poesia para qualquer lado
Latente
 
 
Assim
Sendo
    interminável  como  as frases do Mário Quintana ...
 
 poema não morre é nunca   
Pô – amemo -nos !
 
 


....
 

DORES DOS NÃO AMORES
Vazou
Pelo poro
À noite
Lúcida , tátil, isolada    
Até  madrugada revelar-se   oásis da boca seca
Nada vezes nada  e multiplicado por talvez é igual a todas as possibilidades,  antes que sol revele a dor de acordar sem amar , nem amanhã ….
 
RIO
Fez amor platônico com o branco daqueles  dentes
à deriva
Sem  diálogo
E apesar do diabo
Fogo é fato consumado
Cada virilha uma ilha em chamas
 
Não para!! não para!!! não para!!!
Sorri pra mim !!!
ILUSIONISTAS
Olha ...
Se
Medusa é toda ela...
Ou você, a pedra ...
Bruta ...



Pois É...


  

Não seria exatamente companhia estimulante para uma vodca,  toda hora.  

 

Acomodaria minhas pintas  em seu sofá , certas  vezes 

 
 Deitaria meus pés desnudos no colo de nosso silêncio mútuo,  quase sempre....
 
E
Você leria Dom Quixote só para mim
Quem sabe faríamos   belezas a quatro mãos
  E em alguma parte ficássemos  intactos como pintura na parede da história , sem dor em lembrança alguma ....

 


TANTO 

Te procurei em todo poema
Nos sambas
E entre algumas sombras
Não sabia seu rosto
Só um prenúncio do nosso cheiro
E assim feito a santa que inspira a prece
Quis te escrever em minha vida





PERTO DEMAIS
Nosso amanhã é póstumo
Acidente
 contra parede


Nos seus  bolsos,  já sobra a luz fria de despedida



Enquanto eu sumo , por mais um segundo, nos seus braços profundos.....

 
 



PERTENCIMENTO 
Era eu nas bocas
Nas ancas e nas panelas delas
Era eu na leitura do seu jornal de domingo
E nas cervejas depois do cinemas
Era eu no delírio da prisão em pleno trânsito paulistano
Era eu na cadela abandonada na sua rua
Na capela
No tiroteio
Na vela
...
Na ambulância assim como nas abundâncias
Era eu
Inteira
Em seu olhar




AMOR AOS PEDAÇOS

Muitas cabeças na volta da mesa

Só uma goiabada...




Calo

Uma palavra feriu minha face

Sangrei da boca para dentro

Sozinha

Fui eu quem a disse

E este infelizmente é  para sempre.




NANANANANAN
Passando um tempo
Antes de
Num sofá encardido ouviram ópera e
comeram pêra, só  porque não encontram tesão na feira...






ACIDENTE
 
Aquela mulher morreu outra vez!
Nem de sede, nem de fome
O fim foi de abundância
Sorriu demais
Sem proteção.
 
 
LÍNGUAS IRMÃS

Abraços rotos amanhecem rotos daqui a pouco em Montevidéu, dia após dia, mal pendurados em varais de alta tensão

Afetos esquecidos se amontoam dentro do tênis surrado dele e daquele, prestes a cair na cabeça de um mendigo descalço chamado Francisco

O pobre nada quer na falta de um tudo

Não pensa na morte

Nem no amor

Sua namorada foi atropelada

Não fala sobre Dostoiévisk

Não clama pelo pai, filho ou espíritos santos

Nem procura uma porta para deixar seus chinelos

Um pé de pimentas

Um prego para pendurar espelhos

Pó na paredes

Livros nos tapetes

Janelas sem vidros

Macarrão

Vinhos

Terra para plantar flor e limão

Vísceras

Coração

Dedos

Medos

Francisco não está nem aí para nada

Abandonou o desespero e a espera

Apenas vive livre da vontade
 

Não viu a carnificina estampada no jornal

Nem a cotação do dólar

Há dois sátiros presos no carrossel do parque de diversões

Parecem felizes

Francisco não sabe

No desencontro de acontecimentos circulares o fio da meada revela-se fim

Francisco aprendeu a apenas caminhar pelo dia

Às vezes tenta ajudar a senhora atravessar a rua, mas ela teme ser assaltada

Troca sorrisos com um bêbe que passa, antes que o pai se ofenda 

Oferece uma moeda da outra esquina para uma meretriz, que lhe torce o nariz

Acha graça em tudo, quando não chora de fome
Só nossas  bocas são irmãs



 
 
SÓ  RIA
 
Nada é tanto espanto
 
Deixa ventar entre os dentes...
 
 
  
 GULA
 
 E então aconteceram bolhas no céu daquela boca
Universos paralelos, os dias explodiram um a um acima da língua
Horas insaciáveis
O tempo escorreu correndo goela abaixo do guloso
Aquele nunca gostou de comer peru assado, mas desejou secretamente beber um rio
 Quis também engolir o tal jardim
E almejar assim esquentou suas carnes ao ponto de sobrar só saliva queimada...
 
 
 

SER DE LÁ

No sertão poema é bode na lata

Rapadura de requeijão, bicileta com rádio e raibam

Matula de baiano é o benzimento

Menino ungido de dendê carece não de chocalho

Nasce "aprendido"

Quase "sabido" de assoviar

Escrever é mais difícil pros bichinhos onde professora, quando vem, escreve na lousa é com a unha

Com sorte um e outro entende que B com R mais A é Bra e S com I e L é Sil

Bra- sil

ochente!
 
 
 
BARRIGA VAZIA

Sai daqui poema perneta!

Nem vem com este verso pirado

Deixa de ser pernóstico

De poesia paranóica o universo cibernético tá cheio

O sujeito faminto sabe que esta tal de sua poesia é fome homi ....
 
 
 
CONSIDERAÇÕES
 
A sós comigo posso afagar meus pés cansados com atenções inteiras
Ou fazer boa companhia às minhas orelhas
Até rir bem alto de todo resto
 
 
 
 
NUNCA
 
A cidade secou
  Tempestade destruiu  o copo d´água
 
 
CORAÇÕES SUJOS

Uma palavra de amor sem perfume caíu do peito de um sujeito

Escorregou fétida pelo meio fio

Ladeou bueiros do caminho

Inútil feito a prosódia do bandido que falava latim

Feia e fedida existia à contragosto de uns e outros

Assim era o mundo naquele tempo

O importante era a embalagem do sabonete e ponto.
 
 
 



GRAÚDA

Tadinha!

Tão bonita. Tão repleta.

Queria ter pernas de gansa

Chamava de feiúra suas avantajadas ancas

Quantas besteiras

Comer mamão com açucar também não podia

Tadinha!

Tão bonita. Tão repleta.

Abriria mão do encanto de suas tenras bochechas

Para o desgostos de marmanjos de norte a sul

Até passou a pão e água a desnaturada

Tadinha!

Tão bonita. Tão repleta.

Ensinada que mulher boa é a conterrânea de existência murcha e seca...

oh dó!

 
 
 
FALTA DE PRIVACIDADE
Caótica e pouco cuidadosa vagou pela vida como quem vai cegamente de uma promessa para uma profecia
Fulana não perdeu mais, pois não possuía
De tudo houve, exceto um pouco suficiente de paz
Algumas palavras lhe serviram de ilhas, durante as férias de 1999
A pele prenha de rugas gestava um pedaço da morte
Não pariu
Nem quis
Criava uma pata
E quatro plantas
...
Tinha como outro hábito diário comer ovos de codorna
Soube pela boca do atendente da padaria que já era senhora
Nem deu tempo de declarar-se borboleta, nos anos a fio em que foi açoitada por impostos
Para navegar sobre seus desgostos precisava só de versos
Seu parto foi com fórceps
Seu escritor favorito foi Bukowski
Seu fim foi de uísque
Oficialmente matou o tempo como órfã e funcionária pública
Até que um único amigo encontrou a pasta preta repleta de provas
Era poeta, a pobre coitada
Hoje é famosa
Póstuma.
 



CHORO EM FRANCÊS

Ai que saudades do fim da minha vida
Quando tomarei de volta a fio da meada
E o desconhecimento, tão santo, da estrada
Com sorte chego satisfeita no absoluto nada
Nas ruas sobreviverá umidade e cheiro de coito de aves


Em Paris também se morre


Nenhuma beleza é imune, seja na puta que pariu ou na Pensilvânia


Tudo das vistas some


Pardon , mesdames e messieurs






LAGOA ( poema canção 01)

Na aridez da cidade , quando toda hora tem frio
giro em falso na valsa.......

Invento uma mentira de amor para a lua
Alguma neurose evita paulatinamente o surto
Enquanto me iludo acordada ...
Há em mim uma noite sem fim , nestas duas da madrugada ...
Esta sede chamada saudade, que alaga ...
Me invento água para benzer a miragem do seu corpo , antes que o dia tudo esclareça
E a alma amanheça lavada ...
Inevitável como primeiro beijo , o sol nascerá sobre a lagoa
E desta vez pode ser para sempre...
Há em mim uma noite fim ,
nestas duas da madrugada
Esta sede chamada saudade , que alaga ...



MEIO FIO ( poema canção 2)
É que o relógio de toda praça marca sua ausência ...
E as estátuas riem por nada , na nossa cara
Ninguém mais tem tempo para chorar...

Melhor assim ...

Mas machucou, antes mesmo de doer ...
Esta distância das nossas melhores intenções , que agora boiam na sujeira do meio fio....
Ânsia e vômito ...
Afinal quem fomos ?
Quando? Onde? Como ?
Sem porquê ...
Já parimos o sol entre os umbigos
Já tocamos o céu das bocas
Reunimos nossas línguas em uníssono gemido
Rimos irreversivelmente
Fomos para sempre juntos, até nas esquinas de ninguém ...
Fatos inconsumíveis ...
Fogo sem artifício ...
Mas machucou, antes mesmo de doer ...
Esta distância das nossas melhores intenções , que agora boiam na sujeira do meio fio....
Ânsia e vômito ...
O coreto continua à espera do amor, no bastidor da cena
As pombas alheias ao desejo permanecem ali em paz , rodeando milho , entre voos rasos
E nós fingimos não saber....
E sabemos ...
Mas machucou, antes mesmo de doer ...
Esta distância das nossas melhores intenções , que agora boiam na sujeira do meio fio....
Ânsia e vômito ...












QUEDA LIVRE

Em cada buraco no asfalto sobrevive um abandono

Sem pai

Sem mãe

Sem filho

Quem  mira onde pisa desvia
 Quem avista o céu caí em poço sem fundo, onde sempre caberá afinal outro equívoco





BURACO RASO

Um raio partiu a  tarde ao meio

De um lado ficou a solidão

De outro o sonho

No imenso vão coube de um tudo....

 



 

DESCONHECIMENTO


Morremos sucessivamente em cada história de amor que não doamos ao mundo. No vão das impossibilidades desejamos secretamente um intervalo para acomodar discretamente tanta solidão. Pelo menos uma utopia na janela. Talvez a beleza do cotidiano, cujo parapeito leve finalmente ao infinito. Então amar seria paisagem instigante o bastante. Livre da estória da carochinha. Rezaríamos todos os dias pelas criaturas que fazem amor. Na esperança de que resgatassem o sagrado sugado pelo vivido.

 Acontece que no escambo da humana impermanência pela eternidade do querer  misturamos nosso medo às pressas, hoje em dia.

Viver talvez consista numa experiência volátil, que se concretiza só pela ficção do tato.  Na fricção das ilusões perdidas, com os sonhos restantes. De repente o amante gostaria de nunca ter começado. Há uma tristeza impune nesse sentir incontido. A certeza do fim, num amanhã que nunca esperamos, pois todo caso de amor vive da utopia de sempre resistir.


VORAZ

Teu olhar faminto engoliu minhas fomes
Fiquei a mendigar vontades, na porta de templos pagãos

Tuas pupilas saquearam minha paz e minha guerra

Emprestei um vestido para guardar a pele, qual fruta descascada amarelada no tempo

Feito o papel velho das palavras nunca ditas

A palidez de versos abortados

O tempo sangrado do relógio

Enquanto
Eu guardava pêras maduras no sutiã, para te dar de manhã


OLHOS FECHADOS
Teus olhos são mangas rosas

Têm Chaplin, Baudelaire e Macunaíma

Numa só rima

Hoje acordei à deriva

Só , com seus óculos

Cega, num corpo deserto

Sábado perdido, entre uma sexta qualquer e outro domingo

Feito outra rima besta
Equivocada

SENTIDO

Minha pele não cabe na palma da tua mão ,
então só coça meus pêlos eretos
e para de disfarçar quando vi tuas certezas arrepiarem ....


VESTÍGIOS DE VERTIGENS

Hoje reparei um buraco na parede da minha mente.

Nele exergo o tempo sangrar lentamente dentro dos dias.


PRESA FÁCIL

Solta minha mão maldita ilusão!

Não vou à lugar algum sem você

Nasci com o despudor das musas para ser sua Maria



CANTIGA DE NINAR

Queria morrer de rir

Lá nos confins de mim

Onde até a morte pode ser igual a colo de vó

Pode ser chá quente, em noite de trovão

Ah Se ela fosse até um tanto bonita

Poente

Chegasse mansa qual velha eu faria amizade

Se me convencesse, em silêncio, que não preciso temer outras aventuras curió sorriria

Largaria meu corpo, qual sorvete derretendo ao sol

Queria que ela me matasse as saudades das belezas da minha vida toda, num instante

E me ninasse longe dos sustos dos soluços

Ela me prometeria a vida eterna

E a companhia de quem foi antes

Ah! Se eu pudesse não saber

Que da morte nada se quer


*** Poema premiado pelo Centro de Poesia e Arte e pela Academia Campinense de Letras. Medalha de Prata no concurso Guilherme de Almeida que reuniu centenas de escritores de todo o estado de São Paulo


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Lançamento do livro autoral Um Amigo Diferente na Livraria da Vila - Vila Madalena - SP - 2014: